Livraria Salted Books
Ler é, sem dúvida, um excelente remédio para diferentes tipos de males. Por isso, dá gosto ver aparecer em Lisboa novos espaços que promovem a leitura. Falamos de duas livrarias novas em folha, de uma que mudou de morada e do renascimento da mítica Buchholz, com renovada aposta em arte e música.
Salted Books Bastou uma semana para a jornalista, autora e criativa Alex Holder se apaixonar por Lisboa. Veio à capital em trabalho, apresentar o livro Open Up: Why Talking About Money Will Change Your Life, na Second Home, e, pouco tempo depois, mudou-se com o companheiro, Mark Thompson, designer e diretor de arte, para Portugal.
Desde então, passaram-se quatro anos. “Tempo suficiente para sentirmos falta de livrarias com livros em inglês”, explica Alex. “Nós vivíamos em Hackney, um bairro londrino onde há várias livrarias independentes. Quisemos trazer para aqui um bocado de East London, ter um sítio para leitores e também escritores”, completa Alex. Depois de muita procura, o casal encontrou um espaço na Calçada Marquês de Abrantes, em Santos-o-Velho, pintou-o todo de azul forte – o efeito é ‘uau’ – e começou a preenchê-lo com aquilo que são os gostos da fundadora. Uma seleção cuidada, algo progressista, para adultos, mas também para miúdos. “Escolho os livros um a um. Leio muito, pesquiso críticas, oiço ideias de leitores. Uma livraria é o reflexo do seu vendedor”, comenta. (...)
Alex Holder tem na Salted Books uma seleção cuidada de livros em inglês, organizados por géneros. Há ficção, há livros sobre escrita, memórias, poder feminino, astrologia, biografia, livros sobre ambiente, sobre sexo, sobre substâncias psicadélicas.(...) Haverá eventos que serão organizados em breve, como um dedicado a livros censurados; e vendem-se também t-shirts e sweatshirts da casa desenhados pela marca Arches. Os sacos de papel onde vendem os livros são uma resposta sarcástica às grandes lojas mundiais – “Buy books from bookshops. Not a Billionaire” – e até o nome é um convite à leitura. Salted de ‘sal’. “O sal torna tudo melhor”, finaliza Alex. E a leitura também, completamos.
Livraria Cult
Livraria Cult
A Cult não é nova, mas é uma inquilina recente do bairro de Alvalade. O projeto de Maria João Nunes, ex-jornalista da área da saúde, e Manuel Jesus, ex-engenheiro de telecomunicações e colecionador de banda desenhada, nasceu há oito anos no Areeiro e por lá morou até sentirem que a zona estava a mudar. “Fecharam alguns serviços e escritórios, começou a ficar mais degradada”, explica Maria João , e com isso mudou também algum público que ali comprava.
Quando encontraram um antigo atelier de arquitetura de dois andares em Alvalade, não hesitaram e passaram toda a escolha livreira, com uma forte componente em banda desenhada (portuguesa, internacional e traduzida para castelhano) e a papelaria para a Rua José D’Esaguy. Em cima moram canetas, cadernos, cartolinas e revistas; em baixo ficam os livros generalistas, para adultos para também para miúdos, divididos por géneros (literatura traduzida, livros lusófonos, poesia, young adult, memórias, ficção científica, manga japonesa), com uma zona especial para a banda desenhada a que chamam de ‘garrafeira’, por estar separada do resto da loja através de um vidro.
“Os maiores compradores de BD são homens acima dos 45 anos, mas também já temos várias mulheres, que são muito ecléticas nas escolhas”, revela Maria João. São membros fundadores da RELI – A Rede de Livrarias Independentes e só trabalham com livros novos. “Talvez em breve comecemos a trabalhar com livro previamente amado”, diz, em referência a obras em segunda mão, “e é provável que em breve tenhamos mais espaço para escritos feministas, porque o mundo está muito complicado para as mulheres”, sublinha a dona. A mesma que aponta o movimento do mercado editorial nos dias de hoje. “Está muito dinâmico.”
Livraria Buchholz
Livraria Buchholz
A icónica livraria lisboeta soprou no último dia 28 de setembro as 80 velas. Pretexto para celebrar as oito décadas de oferta cultural à cidade, mas também para assinalar uma espécie de renascimento, que vem acontecendo desde o início do verão.
A livraria, que pertence ao grupo editorial Leya desde 2010, teve obras de restauro, e ao longo dos últimos três meses, foi recebendo novas peças que compõem uma exposição cultural complementar à venda de livros. Falamos de manuscritos de escritores como José Saramago e António Lobo Antunes, de objetos especiais, como uma caneta Pilot V5 lilás, o modelo com que a autora Lídia Jorge escreve há mais de 20 anos, mas também de post-its, cartas ou notas pessoais cedidas por autores ou familiares à livraria.
Pensada originalmente pelo livreiro alemão Karl Buchholz como espaço de tertúlia e galeria de arte, a nova vida da Buchholz relembra os velhos tempos, graças a uma oferta de música, curadoria da loja de discos Flur, e com uma seleção de peças de arte de artistas portugueses – vale a pena ver os desenhos em livros antigos de Bárbara Assis Pacheco –, feita em parceria com a Icon Shop. Haverá também uma programação regular de lançamentos, conversas e outras atividades ligadas ao universo livreiro. Nota final para os cadeirões originais do escritório de Snu Abecassis, fundadora da Dom Quixote, numa recriação do seu espaço de trabalho.
Greta Livraria
Abriu dia 7 de setembro, nos Anjos, e é uma livraria feminista. Fundada por Lorena Travassos como projeto online há um ano e meio, ganhou agora uma loja física, que será mais do que um espaço para vender livros. Tem apresentações, cursos – como o de de escrita Documental com Marlene Barreto, entre os dias 13 e 15 de outubro – além de apresentações de livros e espaço para outras conversas temáticas.
Tal como acontecia (e ainda acontece) no site, os livros são sobretudo escritos por mulheres, mas há também uma secção de género com obras de pessoas não binárias e trans. Nem sempre livros acabados de editar no mercado, com espaço para outros mais antigos.
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