Viveu a pandemia na linha da frente hospitalar, “não exatamente na área da Covid, mas no tratamento do trauma de emergência”, que é a área que cabe a quem há anos é especialista em cirurgia plástica e reconstrutiva. Mas João Luís Barreto Guimarães é, também, poeta de corpo inteiro e, passados os momentos de susto inicial em torno do novo vírus — “em que andámos todos um bocadinho na corda bamba” — foi possível ter um olhar diferente e “começar a constatar onde está o estranho e onde está o absurdo no meio de toda esta pandemia. Isso, aproveitado convenientemente, pode ser material poético”, disse ao Expresso.
“Não são propriamente poemas sobre a pandemia”, avisa o vencedor do Prémio Pessoa 2022. Os poemas contidos na sua última obra foram escritos, na sua larga maioria, nesse período estranho e histórico. E, para quem consegue retirar poesia dos dias comuns, é normal que “inevitavelmente, essas coisas — como a pandemia — acabem por entrar em detalhes”, assume João Luís Barreto Guimarães. Outro exemplo com que ilustra as suas palavras: o da capa do livro. A obra chama-se “Movimento” e “alude àquilo que nos faltou quando fomos confinados”. Mas a capa mostra apenas uma calçada à beira-rio, completamente vazia: “Às vezes as coisas estão presentes pela sua ausência”, explica o médico e poeta.
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Consultado em 16/12/2022
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