Neste dia em que se celebra a nacionalidade, convidamos-te a conhecer um pouco mais sobre o Rei Fundador da nação portuguesa, D. Afonso Henriques. Sabias que, para que tal acontecesse, o rei teve de enfrentar a própria mãe?
Já deves ter ouvido, se calhar mais do que uma vez, alguém dizer que D. Afonso Henriques bateu na mãe. D. Afonso Henriques, como decerto sabes, foi o fundador e o primeiro rei de Portugal. Bem, se é verdade que o homem que «inventou» Portugal fez uma coisa tão feia como bater na mãe, isso seria motivo para estarmos todos um pouco envergonhados, apesar de já terem passado 890 anos. Mas isto não é verdade.
A mãe de D. Afonso Henriques era uma senhora muito bonita, chamada D. Teresa, filha ilegítima do rei Afonso VI de Leão e Castela, e por isso conhecida na época por Teresa de Leão. Como todas as damas do seu tempo, usava uns véus e vestidos coloridos, e vivia num castelo a fazer lembrar os de A Guerra dos Tronos – e que «por acaso» existia na realidade e ficava em Guimarães… Falta lembrar quem era o pai de Afonso. Tratava-se do conde Henrique de Borgonha, aparentado com a família real francesa dos Capetos, que tinha vindo anos antes de França para a Península Ibérica, a fim de participar na cruzada contra os mouros, colocando-se ao serviço de um tal Afonso VI de Leão e Castela. Este rei, que era irmão de uma tia por afinidade do jovem Henrique, simpatizou com ele e ofereceu-lhe o governo de um pedaço do seu reino: o Condado Portucalense, ou simplesmente Portucale, uma região que abrangia o Minho, o Douro Litoral e parte de Trás-os-Montes. E ainda lhe deu a mão da sua bela filha Teresa. Parece um conto de fadas.
O príncipe e o aio Como se não lhe bastasse lutar contra os mouros na Península, Henrique de Borgonha embarcou, um dia, para a Terra Santa, desejoso de combater numa cruzada daquelas «a sério», lá no Oriente. Ainda regressou, mas pouco depois morreu, deixando nos braços de Teresa o pequenito Afonso Henriques, filho de ambos. Teresa, que se calhar gostava muito de se ver ao espelho, tal como aquela rainha da Branca de Neve, assumiu pessoalmente o governo de Portucale, com o título de rainha, e entregou o menino à família do barão Egas Moniz, para que este o educasse. Mas não há aqui nada de anormal, pois naquele tempo era costume os rapazinhos fidalgos (quer dizer, «filhos de algo», ou filhos de alguém importante) serem educados por um aio.
D. Teresa de Portucale ligou-se, em seguida, aos barões da Galiza no combate contra as ambições dos castelhanos, que queriam mandar também neste canto da Península Ibérica. O mais importante desses barões galegos era Fernão Peres de Trava, com quem se diz que D. Teresa teve um romance sentimental. Não há dúvida é de que a aliança dos dois foi política, chegando Fernão a governar os Condados de Portucale e de Coimbra.
É natural que os barões de Entre-Douro-e-Minho – entre eles Egas Moniz, o tal que estava a educar o pequeno Afonso Henriques – não gostassem da brincadeira. Pegaram então na espada (bem, naquele tempo nunca a largavam), exibiram o jovem Afonso Henriques como sua bandeira humana e desafiaram para a luta Fernão Peres e Teresa. Estes tinham, por seu lado, o apoio do arcebispo de Santiago de Compostela, D. Diego Gelmírez. Bispos e arcebispos tinham uma importância enorme.
Portugueses contra “galegos” E, como não poderia deixar de ser, deu-se uma batalha. Os dois bandos de guerreiros (o «português» e o «galego») enfrentaram-se na tarde de 24 de junho de 1128, no campo de São Mamede, junto do Castelo de Guimarães. Este combate de há 890 anos ficou por isso conhecido como Batalha de São Mamede.
Quem ganhou? Foram os barões do Douro e do Minho, os tais que tinham escolhido o jovem Afonso Henriques para seu símbolo. O arcebispo de Braga, D. Paio Mendes, desejoso de afirmar a independência face ao arcebispo de Compostela, também esteve do lado deles.
Derrotados, Teresa e Fernão Peres deixaram o governo de Portucale nas mãos do jovem Afonso Henriques e dos barões do Douro e do Minho. Conta então o povo – embora não existam nenhumas provas disso – que Afonso mandou encerrar a mãe no Castelo de Lanhoso, perto de Braga. Esta lenda veio construir a ideia de que D. Afonso Henriques «batia na mãe». Mas não era bater como as pessoas julgam.
O desfecho da Batalha de São Mamede foi muito importante, pois separou Portugal da Galiza e abriu caminho para a independência do nosso país como depois veio a existir.
In https://visao.pt/visaojunior/historia-visaojunior/2019-06-24-24-de-junho-1128-ele-bateu-a-mae-mas-nao-bateu-na-mae/ (consultado em 10/6/2023)
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